quarta-feira, 6 de maio de 2015

Panelas


Panelas

Na panela da janela
vazia de sentido
panela de pressão seletiva
capela de repressão
eu não bato não

Na panela que não apita
quando a fumaça sobe
pra professor em greve
que não chia
quando o cabo de borracha queima
as costas de estudantes nas ruas
eu não bato não
Na panela de olhos de aço
que aceita a balela dita na tela
que chama massacres de conflitos
panela que no fundo
vibra quando a polícia bate
eu não bato não

Na panela de cera que não vela o Eduardo de Jesus
clamando justiça
na panela que não desvela a ditadura na favela
na panela que não pergunta do Amarildo
eu não bato não
Ela ela ela
silêncio na janela
se o choro é da favela

Na panela anticorrupção
antiaderente pra tucanos
e pra empresário corruptor
eu não bato não
ainda mais nessa de tecnologia avançada
que deixa inoxidável o sorrisinho do chuchu
que não refoga
governador que revoga aumentos de salário
frita a educação pública
amassa quem discorda de seus desmandos
desidrata torneiras
escorre a água do macarrão
pro agronegócio
deixa assar a batata envenenada
calado
enquanto os da janela batem na panela de cobre
nobre
que encobre o cartel do metrô
cozinha escândalos em banho-maria
sem deixar ferver pro povo esquecer

Corrupção tucana parece aquela brincadeira:
vaca amarela cagou na panela
na grande mídia ninguém corre o risco
de comer toda a bosta dela

Na panela de barro que ferve direitos trabalhistas
eu bato pra estilhaçar
Na panela de teto de vidro
que enquanto bate
deixa descansando o ajuste fiscal
a terceirização
e outros ingredientes do mesmo caldo
eu não bato não
não bato panela nem palma pra patrão
muito menos se for passar na televisão
pois se alguém ainda não sabe
requento aquele refrão:
não vai ser televisionada a revolução
Na panela da panelinha de “gente de bem”
civilizada e pacífica
eu não bato não
Sou desses que leva panela pra rua
pra fazer baderna
e deixa um panelão pra lua
pra fazer de cisterna

(Lucas Bronzatto)

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