segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Catarse

Catarse

A hora é de ir
Pra onde quer que se olhe
o que se vê pede coragem

É tempo de olhar de dentro
olho no olho do furacão
pé no chão
piso firme
punhos cerrados
O sonho soprará o caminho no ouvido

Sonhos mútuos
somos muitos
somos muito

Também é tempo de olhar pra dentro
queimar nossos lixos
arrebentar nossos vidros
quebrar nossos bancos e o que mais acomode
A hora é de incômodo
a hora é de ir
não há tempo pra perplexidade
os tempos são mesmo outros
e não há tempo a perder

A hora agora pede pressa
É preciso desacelerar o mundo

(Lucas Bronzatto)

domingo, 29 de dezembro de 2013

Multimídia II



Quantos anos há entre eu e você?
Quantas palavras antes destas?
Boletos? Boleros? Bilhetes?
Cartas de amor? Duas gerações? Mais?

Pulo a linha com as mãos ainda

como é que se resolve um tilt de máquina de escrever?
sem alt sem del sem control
sem controle sobre a máquina o homem se desespera sempre
e sempre é em vão
mais cedo ou mais tarde
a máquina controlará o homem
que iludido acreditará
que controla a máquina

os poetas não controlam suas máquinas de escrever
às vezes o barulho das teclas invade,
se escuta até a caneta rabiscando palavras soltas
na cabeça
há um pouco de infância no som e na bobina
marcas de quando brincávamos de escrever
e que hoje me ajudam a brincar com as palavras.

(Lucas Bronzatto)

na máquina de escrever que ganhei do meu avô Roberto.

Como foi o primeiro poema que escrevi nela, mantive os erros de digitação, de quem ainda tá aprendendo a mexer.

Multimídia I


emaranhado de estrelas cadentes 
que não caíram
viajam incandescentes

decadentes focos de luzes de cidades destruídas
faróis foram
fogueiras foram
lâmpadas foram

pontos de vista criam e recriam galáxias

dispor-se longamente a olhar
expor-se
longa exposição
luz
segundos
anos-luz
estrelas que nunca caem

(Lucas Bronzatto)

Poem sobre a foto de 
Rubem Abrão da Silva: Luzes da cidade em longa exposição