sexta-feira, 29 de março de 2013

Potosí

Potosí

Em Potosí é mais difícil respirar

4090 metros de puro ar rarefeito
o oxigênio parece fugir dos narizes

Quanto mais se aproxima do Cerro Rico
e dos 4800 metros de seu pico
mais difícil fica pra respirar
Pulmões desacostumados sofrem

Quando se entra no Cerro Rico
fica ainda mais difícil respirar
o peito não aguenta o que os olhos veem
Homens de pele cinza
corpos que se fundem à mina
e se afundam num inferno
a 4600 metros de altitude
de domingo a domingo
motores humanos
movidos a coca, álcool 96 e tabaco
inspiram força
expiram silicose
travessuras de dinamites
sangue e suor
incrustados nos brincos de prata
de orelhas brasileiras e europeias
sangue e suor
derretidos nas multinacionais
40 por ano morrem trabalhando
sabe-se lá quantos trabalham morrendo

Tantos fantasmas
quanto as toneladas de prata
que a Espanha levou
Gente extraída enquanto extrai
explorada enquanto explora
Picaretadas na alma
dessas que acertam em cheio
todos os dias
a maioria de nós abaixo do Rio Bravo
e deixam mais difícil respirar ali dentro

Quando se sai do Cerro Rico
é difícil voltar a respirar como antes

(Lucas Bronzatto)

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Foto: Jean-Claude Wicky (fotógrafo e diretor do filme "Todos los dias la noche", sobre os mineiros de Potosí)


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