sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Por que ainda cantamos?

Direto do túnel do tempo, um dos primeiros poemas que escrevi, há uns 4 anos atrás talvez. Por essa época começou o encanto com a poesia de Mario Benedetti e foi baseado em seu poema "Por qué cantamos" que me aventurei em fazer meu primeiro poema crítico. Mudei algumas poucas coisas pra ficar melhor a leitura, mas a essência é a mesma. Aí vai:

Por que ainda cantamos?
(Lucas Bronzatto)

Usted preguntará
por qué cantamos?
(Mario Benedetti)

Se cada um é cada vez mais um
se somar virou subtrair e dividir, multiplicar
se poucos sabem o verdadeiro resultado
da mais simples das contas, um mais um
você perguntará
por que cantamos?

Se nos foi arrancada a essência humana inventiva e crítica
se nos roubam pouco a pouco a capacidade de pensar e sentir
se transformam em impotência nosso potencial humano
se nos amarraram sentados na platéia do palco da História
você perguntará
por que cantamos?

Se quase todas as antenas e quase todos os sinais
não têm nenhum interesse em propagar nosso canto
se a variação da bolsa define valores de notícias e canções
se notícias e canções viraram shows de business sem conteúdo
você perguntará
por que cantamos?

Se a maior parte das cabeças da “elite intelectual” brasileira
é dominada pela elite econômica e não tem ouvidos para o nosso canto
se a universidade tem tantos muros tantas grades tantos abismos
se direitos e coletivo parecem palavras de um idioma incompreensível
você perguntará
por que cantamos?

Si cada hora viene con su muerte
si el tiempo es una cueva de ladrones
los aires ya no son los buenos aires
la vida es nada más que un blanco móvil
usted preguntará
por qué cantamos?

Se estamos desaprendendo a conjugar o verbo amar
se para o amor estamos cansados e usamos cronômetro
se o amor ao próximo tem dia hora local e freqüência semanal
se o rosto do próximo é apenas um retrato falado
você perguntará
por que cantamos?

Cantamos porque vemos o invisível
sentimos onde parece não haver o que sentir
cantamos para dividir o indivisível
cantamos porque assim não é possível

Cantamos pelo que nos é inato de verdade
cantamos para que o canto arranque de nós o consumismo
o individualismo o pessimismo o machismo o capitalismo
e os demais ismos doentios

Cantamos para que a saúde não gere mais doença
para que as doenças deixem de ser minas de ouro
cantamos pela educação que liberta
cantamos para que todos tenham direito de cantar

Cantamos para um dia colocar um nosso na palavra país
e um nossa na palavra América
cantamos para lembrar que nos separamos da mãe-terra
e para fazer coro aos apelos que ela faz para voltarmos

Cantamos para acusar aos responsáveis pela injustiça
cantamos pelos movimentos sociais contra os massacres e cassetetes
cantamos porque nos organizando podemos desorganizar*
e porque o canto pode ser uma fagulha

Cantamos porque el niño y porque todo
y porque algún futuro y porque el pueblo
cantamos porque los sobrevivientes
y nuestros muertos quieren que cantemos

Cantamos porque el grito no es bastante
y no es bastante el llanto ni la bronca
cantamos porque creemos en la gente
y porque venceremos la derrota

Cantamos para resgatar a harmonia das canções
dos que cantaram antes de nós
cantamos porque o canto nos mantém de pé na luta
cantamos para fazer do impossível possível**

--

Trechos em espanhol: Por qué cantamos – Mario Benedetti
* adaptado de Chico Science – Da Lama ao Caos
** trecho de “Fidel Castro – Revolución es”


--
E a original, do mestre:


Por qué cantamos

Si cada hora viene con su muerte

si el tiempo es una cueva de ladrones

los aires ya no son los buenos aires

la vida es nada más que un blanco móvil


usted preguntará por qué cantamos


si nuestros bravos quedan sin abrazo

la patria se nos muere de tristeza

y el corazón del hombre se hace añicos

antes aún que explote la vergüenza


usted preguntará por qué cantamos


si estamos lejos como un horizonte

si allá quedaron árboles y cielo

si cada noche es siempre alguna ausencia

y cada despertar un desencuentro


usted preguntará por que cantamos


cantamos por qué el río está sonando

y cuando suena el río / suena el río

cantamos porque el cruel no tiene nombre

y en cambio tiene nombre su destino


cantamos por el niño y porque todo

y porque algún futuro y porque el pueblo

cantamos porque los sobrevivientes

y nuestros muertos quieren que cantemos


cantamos porque el grito no es bastante

y no es bastante el llanto ni la bronca

cantamos porque creemos en la gente

y porque venceremos la derrota


cantamos porque el sol nos reconoce
y porque el campo huele a primavera

y porque en este tallo en aquel fruto

cada pregunta tiene su respuesta


cantamos porque llueve sobre el surco

y somos militantes de la vida

y porque no podemos ni queremos

dejar que la canción se haga ceniza

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