terça-feira, 31 de julho de 2012

Viuvez

Viuvez
(Lucas Bronzatto)

Caminhava trôpego em meio às palavras pronunciadas
ora desviava ora encarava ora me distraía
O céu é sempre cinza em dias de despedida
nunca tem lua
Tropeço trapaça ou trampolim?
Um trapo no lugar da cara
um trato um trator um transtorno
leve
talvez moderado
sempre ponderado não ponderava mais
não pontuava mais
não podia mais
latejava dentro da cabeça
pesava quando pensava
não amansava, amassava
a eterna dificuldade de lidar com o luto
Escuto a lágrima solitária
que percorre escorre e seca
sem mais luta, aceito
visto o véu de viúvo de mim mesmo
de outro eu que se vai
É sempre mais difícil pra quem fica

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Um poema às pequenas mortes de cada um de nós, inspirado (talvez de forma incosciente) na excelente história em quadrinhos Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá.



http://hotsitepanini.com.br/vertigo/series/daytripper/

2 comentários:

  1. Não conheço esta história em quadrinhos que vc citou, mas sei que a partida de um ente querido é algo que te despedaça, ainda que racionalmente vc possa entender. A morte em si, o funeral, o sepultamento, os primeiros dias são verdadeiramente um réquiem, um transtorno, um furacão. Adorei, Lucas!

    Elaine.

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  2. Po mano, que foda essa idéia de metamorfose. Obrigado por compartilhar. Abraço, Jayme

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